Jander Fernandes Martins e Vitória Duarte Wingert

AS DIFICULDADES NA EFETIVAÇÃO DA LEI 10.639/2003, DAS QUESTÕES SOCIOCULTURAIS À QUESTÃO DO INSTRUMENTAL DIDÁTICO

 

O presente trabalho é fruto alguns resultados obtidos em estudo realizado em uma cidade metropolitana, próxima a Porto Alegre-RS. A mesma contou com a participação de professores concursados responsáveis pelo componente curricular de História. Além de perscrutar a implantação e implementação da Lei no município de Campo Bom-RS, por meio da documentação existente na Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Buscou-se também, abordar esses profissionais da educação sobre a Lei 10.639/03. Aqui socializa-se os resultados referentes à duas das questões emergidas na pesquisa realizada, a saber: a questão das dificuldades de efetivação da Lei em sala de aula; e consequentemente, a questão dos instrumentos didáticos visto ser essa a questão considerada pelos professores uma das grandes dificuldades na efetivação da referida Lei. Tema e discussão essa, à luz da proposta teórica de Triângulo Pedagógico e do Triângulo do conhecimento de (NÓVOA, 1999)

 

Educacionalmente, o presente texto objetiva retomar a discussão acerca desta lei a qual, para quem não sabe (e relembrando àqueles que já tem ciência da mesma), trata da “obrigatoriedade do ensino da cultura e da história afro-brasileira e africana nos componentes curriculares de Artes, Literatura e História”. (BRASIL, 2003)

 

Embora muito exaltada e festejada pelo Movimento Negro (MN), este triunfo, revelou-se mais como a ponta de um iceberg. A cada novo passo dado, desde 2003, as desigualdades, os preconceitos, as discriminações, as intolerâncias na sociedade brasileira, em geral, e no ambiente escolar, em específico, continuaram a revelar práticas e comportamentos preconceituosos, discriminatórios e estereotipados com relação à diversidade e pluralidade étnica e cultural.

 

Bem à verdade, a Lei 10.639/03 tem sua gênese no Projeto de Lei (PL) nº 259-a de 1999, que foi apresentada pelos Deputados Ben-Hur Ferreira e Esther Grossi, tramitando pelos diversos setores políticos do governo até que, quatro anos mais tarde foi promulgada, modificando os Artigos 26-A e 79-B da LDB/96. Concomitantemente, outras modificações na Diretriz Maior Educacional foram levadas à cabo, a partir do Parecer do CNE/CP nº 3/2004 e da Resolução CNE/CP nº1/2004 que estabeleceram as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. (ROCHA; TRINDADE, 2006)

 

Desde então, aumentou sensivelmente o número de publicações, dissertações e teses sobre a mesma. Embora temas correlatos, tais como o racismo, a discriminação e o preconceito racial sejam objetos de pesquisa desde a metade do séc. XX. Esse aumento de produções acadêmicas visava perscrutar a própria 10.639, a qual alterava os artigos 26-A e 79-B da LDB 9.394/96, a Resolução CNE/CP1/2004 e a CNE/CP3/2004, as quais:

 

[...] compõem um conjunto de dispositivos legais considerados como indutores de uma política educacional voltada para a afirmação da diversidade cultural e da concretização de uma Educação das Relações Étnico-Raciais nas escolas, desencadeadas a partir dos anos 2000. (GOMES; JESUS, 2013, p. 21)

 

Além desses dispositivos Legais, também serviram de objeto de análises os diversos ambientes públicos e privados, desde as instituições de ensino, perpassando empresas e até mesmo Organizações Não-Governamentais se tornaram locus de pesquisas. Analisadas por Universidades, Organizações de Pesquisa Governamentais, Fundações Privadas (como a FORD, por exemplo) que somadas, tinham como intuito diagnosticar como estava sendo implantadas no território nacional suas orientações normativas. (CHAVES, 2010)

 

Segundo Paula e Guimarães (2014, pp. 437-438) até o ano de 2014, no que concerne a estas produções científicas, havia os seguintes dados: no que concerne à Teses de Doutoramento totalizavam doze, organizadas em quatro grupos: 1) formação de professores; 2) formação inicial; 3) formação continuada; e 4) temas afins. Além destas, o estudo realizado pelas autoras também constatou a existência de quinze dissertações de Mestrado, todas relativas à formação inicial, formação continuada ou ainda a temas afins.

 

Com esse estudo realizado, as autoras concluíram que:

 

As pesquisas apontam para uma invisibi­lidade do tema nos anos anteriores à década que começa no ano 2000. A investigação [...] realizadas nos anos de 1980 e 1990, não evidencia essa temática. O tema não é visível até década de 1990 para as instituições de educa­ção e pesquisa, em especial aquelas voltadas para a formação dos professores para a educação básica e para o ensino superior. (PAULA; GUIMARÃES, 2014, p. 445)

 

Dentre estes, os mais recorrentes foram:

 

a identidade do professor, os saberes, a religiosidade, as práticas pedagógicas, os currículos e o arcabou­ço legal. Em relação ao professor e a sua formação, evidencia-se a problemática da identidade docen­te como algo dinâmico. Nesse sentido, categorias analíticas podem ser realçadas, tais como: concep­ções, saberes, representações, imaginário, trajetó­rias, aprendizagem, mudanças e permanências e impactos sobre a educação e sistemas de ensino. (DE PAULA; GUIMARÃES, 2014, p. 445)” Por fim, as autoras asseveram ser a Lei 10.639 um “[...] marco periodizador político, legal e histórico [...]” (IDEM), vindo ao encontro com o que já discorremos anteriormente e que comungando com nosso entendimento até aqui realizado.

 

Como se percebe, se nas décadas anteriores as lutas eram de cunho político, social e educacional. A partir da promulgação da 10.639, os últimos dezoito anos foram de intensa luta intelectual e acadêmica, objetivando revelar mazelas que ainda poderiam estar entranhadas no tecido das relações sociais no país. Perscrutando nas mais variadas esferas e perspectivas, buscou-se durante este tempo: desvelar os “preconceitos sutis” desmistificar o “mito da democracia racial”, descortinar o “racismo” e a “discriminação” ocorridas na escola e o seu “impacto na infância”, a “discriminação para com os professores negros”, as “tensões entre racismos e antirracismos”, a questão do “multiculturalismo” e as inúmeras tentativas de “propostas de educação para a paz e a diversidade”. (DE PAULA; GUIMARÃES, 2014; FREYRE, 2006; GOMES; JESUS, 2013)

 

Embora implantada essas medidas, o seu processo de efetivação e implementação se fez tão duro quanto a luta dispendida em sua implantação. Prova disto, é os estudos acima mencionados e também o fato de no fim da primeira década de 2000, a Lei de 2003 ser “modificada” com acréscimo de outra etnia, até então deslocada, educacionalmente, para segundo plano em caráter totalmente estereotipado. Em especial, quando tratada em Livros Didáticos (GOBBI, 2006), a saber, a História e Cultura dos Povos Indígena do Brasil, através da Lei 11.645 em 2008.

 

A chave de tudo é o Livro Didático?

 

A questão do “instrumento didático”, perpassou inúmeras justificativas de todos os professores que participaram do estudo realizado. (ALVES, 2005; LANCILLOTTI, 2008). Majoritariamente, quando a questão se referia aos materiais didáticos e as fontes de pesquisas, em sua maioria, todos “reclamavam da pouca disponibilidade de material” referentes à questão étnico-racial.

 

Evidência essa, constatada na fala de um dos colaboradores do estudo:

 

“[...] são dois os... o primeiro é a questão da carga horária, porque além do que está nos PCN’s, a gente tem que dar conta de alguns projetos que os municípios nos encaminham para que a gente faça. Então o tempo acaba sendo muito curto e tem temas que nós precisaríamos aprofundar um pouquinho  mais que não dá tempo. Outro problema seria a questão dos materiais disponíveis sobre o tema. Então, os Livros didáticos, os mais recentes agora a gente está tendo acesso. Então, antes era difícil encontrar livros [...] Então, além da falta de recursos metodológicos, didáticos tinha essa questão da falta de tempo para se atualizar. (PROFESSOR 1C, grifos dos autores)

 

Como se vê, para esse professor a primeira dificuldade está na “carga horária” semanal destinada ao Ensino de História, o qual bem se sabe, privilegia disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa. Tal sintoma há muito é problematizada e discutida, pois se refere ao âmbito do currículo e como tal, se sabe ser essa esfera um território de disputa de poderes. Como já discutido anteriormente.

 

O que é contraditório, visto que, desde 2003 há grande fomento para a produção de materiais alusivos à questão africana e afro-brasileira. Exemplo concreto, é o fato de o Ministério da Educação e Cultura no ano de 2016 avançar no processo de consolidação da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), a qual no ano de 2020 instaura-se nas redes de ensino brasileira. Além disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais, em especial o de História e Geografia e o de Pluralidade Cultural, lançados em 1997-98, ou seja, há quase vinte anos, prescrevem diretrizes nesse sentido. Outro adicional a essa questão, parece-nos revelar a possibilidade de formação continuada (em serviço), pois, está claro na fala dos professores que todos, em primeira instância fazem uso do livro didático, e por ser escola pública, há o subsídio do Governo Federal por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). (http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12391:pnld)

 

Tal constatação abre margem para inúmeras indagações, dentre elas seria a questão referente à concepção dos professores acerca do que seria e deveria ser a formação continuada. Tais exigências por parte do professorado entrevistado, parece sugerir uma postura e um entendimento acerca de seu fazer didático, com relação à temática da Lei, caracterizado por aquilo que, costumeiramente em ambiente escolar, se chamaria de “professor tarefeiro”, “professor bate-cartão”, ou seja, nessas falas parece haver uma suposição de que, o instrumento didático deveria ser algo com a finalidade única de ser “repassado, transmitido” o seu conteúdo ao aluno, especialmente, temas mais complexos.

 

Com isso, adentra-se na discussão que envolve o Estado, e toda a sua implicação norteadora e responsável pelas Políticas Públicas e Diretrizes Educacionais no Brasil. Aspecto esse, identificado também nas falas dos professores, pois para esses profissionais da educação, ao serem defrontados com a questão da dificuldade em efetivar a Lei 10.639/03, está incutida a esfera maior a qual norteia e dirimi a organização das instituições escolares do país.

 

Igualmente, outro professor justifica suas dificuldades na efetivação da Lei:

 

Abranger toda ela, é difícil, tu pegar todos os aspectos da cultura afro ou tu falar da cultura dos afro-brasileiros [...] Então, essa questão eu acho bem complicado [...] E a cultura afro, da pouca quantidade, até por ser uma colonização alemão e os alemães conseguem marginalizar melhor ainda o negro mais do que os portugueses. (PROFESSOR 2C)

 

É revelador perceber na fala desse professor, as tensões políticas, socioculturais, educacionais e históricas. Para ele, em primeiro lugar a dificuldade está na “abrangência da temática”, pois trabalhar toda a “história e cultura africana e afro-brasileira”, com uma baixa carga horária semanal, consequência da organização curricular vigente, prejudicaria a efetivação da mesma.

 

A escola disponibiliza materiais didáticos e/ou bibliográficos que subsidiem tua prática docente voltada para atender a demanda desta Lei?

 

A indagação realizada aos professores, aqui destacada como subtítulo, teve como propósito investigar se seriam ou não um fator condicionante a falta ou disponibilidade de materiais na escola. Subjacente, também perscrutar se na hora de escolherem e optarem por determinada “fonte histórica”, se as mesmas são recorrentes ou contextualizadas conforme cada local.

 

Nesse sentido, os dois primeiros interlocutores assim se manifestaram:

 

Sim, tem alguma coisa, que eu já peguei, só que agora, vou te dizer assim. Não me vem [não lembra]. Tem sim. Tem disponibilizado ali na biblioteca. Eu fui atrás, na verdade as pessoas nem sabem que tem, eu que fui ali. Eu que gosto [...] e inclusive alcanço material para o pessoal [...]. (PROFESSOR 1A)

 

Tem material, livros didáticos, tem alguns livros nas bibliotecas, daí. Nas outras escolas que eu trabalho. Mas como eu sou muito dessas áreas das mídias{tem especialização na área}, mas tem alguns materiais. (PROFESSOR 1C)

 

Os motivos alegados, pelos professores 1A e 1C, nesse primeiro momento seriam: a escassez de materiais didáticos e bibliográficos em suas escolas. Porém, quando convidados a relatarem os motivos da escolha de determinados tipos de fontes históricas, majoritária e implicitamente, os professores alegam ser a “facilidade de acesso e maior abundância de materiais disponíveis”. Isso revela uma contradição, pois em uma pergunta alegam ter dificuldade em achar material e, em outra, alegam eleger determinado tipo de fonte por ser mais abundante, fácil e acessível. Qual seria a gênese disso? Pouco tempo disponível para realizar uma procura aprofundada? Dificuldade na seleção dos materiais?  Na reflexão acerca dos mesmos de modo a transforma-los em linguagem acessível à seriação?

 

Para além do livro didático, a “biblioteca escolar” ainda é uma das mais citadas. Citar esse local nos parece natural, visto que esse ambiente é reservado à consulta de livros e materiais de consulta à professores e alunos. Segundo esses discursos, os professores, durante seu momento de planejamento (conforme prevê o Art. 67, inciso V da LDB/1996). No entanto, verifica-se que, para esses professores, a escassez de material de consulta em seus locais de trabalho acaba por ser um entrave na efetivação de aulas voltadas para uma educação para as relações étnico-raciais.

Os professores 1B e 4B são eloquentes:

 

“Aqui ainda é complicado... eu já entrei na biblioteca já fiquei... {faz gestos de negativo}... é complicado”. (PROFESSOR 1B)

 

“Geralmente é a gente mesmo que vai atrás do material [...] eu busco na internet ou a gente compra, né. Tu vai atrás mesmo”. (PROFESSOR 4B)

 

Mesmo assim, cabe a indagação: e os materiais produzidos pelo MEC, SECAD SEPPIR, PNLD? Que anualmente são (ou pelo menos deveriam) ser enviados à todas as escolas públicas no território brasileiro, onde estão?

 

Evidentemente, é amplo o número de produções acerca dos materiais pedagógicos, especialmente, referente ao “livro didático” (GOBBI, 2006). Porém, deixa-se em aberto a questão de futuras perscrutações acerca da “elaboração, organização, tramitação, etapas, distribuição e chegada às escolas” desses materiais.

 

Encaminhando-se para o final, não podemos deixar de mencionar uma última fala de um dos professores, os quais merecem reflexão, debates e futuros estudos (que excedem nosso trabalho no presente momento):

 

Sim, até estou com um livro da escola que eu peguei. Elas {coordenação pedagógica} já deixaram lá na sala de planejamento os livros de uns autores que pesquisaram sobre escravidão aqui na região do Vale dos Sinos. Livros acadêmicos, só tem um problema, eles pecam em muitas coisas. Não estou pedindo pra virem de mão beijada, mas se tu não tens base, porque como eu disse, minha disciplina de História da África [...] foi muito fraca. Então, me carece de base {teórica}. E daí tu vai pegar aquilo ali e vai querer trabalhar, talvez falte uma didática. Eles carecem disso. Eles são na maioria voltados para a Academia, não para professores que estão a um bom tempo fora, passado pela academia, tem um linguajar difícil e eles são voltados para o professor de História. [...] E como que fica o professor e Geografia? De ciências, de matemática, de português? Então, como a Lei diz que é pra todas trabalharem, não fica a cargo do professor de história, esse peso não cai só sobre os ombros do professor de História, né, mas falta isso. Poderiam colocar dicas de site, de como abordar o tema, um livro voltado para a História do cotidiano, não um livro para bibliografia... Eu quero usar ele como conteúdo, não como fonte bibliográfica! Eu não quero citar o livro no planejamento eu quero utilizar ele, que ele me dê ferramentas. (PROFESSOR 2C, grifos dos autores)

 

É contundente a fala do professor. Em especial, os elementos grifados. A começar que, ao que parece, a temática volta e meia, acaba por retornar ao “batido tema da escravidão”. Como se fosse o tema triunfo, central da história e cultura africana e afro-brasileira. Não obstante, os materiais que chegam as escolas (quando chegam) pois, outros professores mencionam a “escassez deles” e, ainda, são “acadêmicos demais”. O que ele quer dizer com isso? Preliminarmente, parece que o “linguajar mais técnico, erudito, culto” geraria um entrave, uma dificuldade para a realização do trabalho desses professores de História em sala de aula?

 

É de se destacar também que na crítica severa do professor, mencionam que, em outras palavras, “sobra academicismo” nesses materiais e “falta didática”. Ou seja, conteúdos elaborados e descritos de modo a ser “mais fácil de reproduzi-los em sala de aula”.  Afinal, o que efetivamente iria contribuir para a consolidação da Lei 10. 639/03 em sala de aula será “materiais menos teóricos e mais didáticos” que sejam funcionais. Isto é, que permita seu uso como “ferramenta” didática e não como “fonte para ser citada nas bibliografias” do projeto.

 

Considerações finais

 

Compreender a história do Brasil, as tensões sociopolíticas para se compreender as relações étnico-raciais vividas principalmente, nos dois últimos séculos, foram elucidativas. Conforme demonstraram os estudos de Lilia Schwarcz (1996), Sergio Guimarães (1999) e José Barros (2009), desde fins do séc. XIX, no Brasil se iniciou uma busca por propagandear um ideário (projeto romântico nativista) nacional, como aqui sendo um exemplo de “país harmonicamente miscigenado”. As justificativas foram inúmeras, em especial, a partir da década de 1930, sob uma “simbologia tropical” (que englobava não apenas o negro africano, mas também o indígena).

 

Como se viu, o presente trabalho buscou perscrutar a implantação e implementação da Lei 10.639/03 em uma cidade do RS. Socializando dados específicos referentes à duas das questões emergidas na pesquisa realizada. Constatou-se que, há ainda por parte do corpo docente uma ideia de que há escassez de materiais referentes ao Ensino de História e a Lei 10.639/03. No entanto, embora exceda as exigências deste trabalho (e normas do evento), verificou-se haver um amplo repertório de materiais didáticos voltados à temática étnico-racial, inclusive, dos Órgãos Oficiais (MEC).

 

Assim, com o objetivo de socializar um estudo de caso e propor diálogos espera-se que essas questões apontadas pelos professores abram margem para discussão com as produções já realizadas na academia. Tais fatos, nos impelem a tentativas antirracistas claras e diretas de erradicação deste fenômeno de diferenciação desigual e inferiorizante. (BARROS, 2009)

 

 

Referências biográficas

 

Jander Fernandes MARTINS. Pedagogo (UFSM), Mestre e doutorando em Processos e Manifestações Culturais/FEEVALE. Bolsista CAPES/PROSUC. E-mail: martinsjander@yahoo.com.br.

 

Vitória Duarte WINGERT. Historiadora (FEEVALE) e Mestra em Processos e Manifestações Culturais/ FEEVALE. Doutoranda em Diversidade Cultural e Inclusão Socia/ FEEVALE. E-mail: vitoriawingert@hotmail.com.

 

Referências bibliográficas

 

ALVES, Gilberto Luiz. O Trabalho Didático na Escola Moderna: formas históricas. Campinas: Autores Associados. 2005.

 

BARROS, José D’Assunção. A construção social da cor: diferença e desigualdade na formação da sociedade brasileira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

 

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm.

 

_____. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 9 jan. 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm

 

CHAVES, José Adair Xavier. A Implementação da Lei 10639/03 na Educação: a desconstrução do preconceito e da discriminação contra a população negra brasileira. Curso de Mestrado em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (RS) - UNIJUÍ. Ijuí, 2010.

 

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: a formação da família brasileira sob o regime patriarcal. Apresentação de Fernando Henrique Cardoso. 51ª Ed. rev. São Paulo: Global, 2006.

 

GOBBI, Izabel. “A temática Indígena e a diversidade cultural nos Livros didáticos nos livros de História”. Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, do Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR, 2006.

 

GOMES, Nilma Lino; JESUS, Rodrigo Ednilson de. “As práticas pedagógicas de trabalho com relações étnico-raciais na escola na perspectiva de Lei 10.639/2003: desafios para a política educacional e indagações para a pesquisa”.  Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 47, p. 19-33, Editora UFPR. jan./mar. 2013.

 

NÓVOA, Antonio. “O passado e o presente dos professores”. IN: NÓVOA, Antonio (org.) Profissão Professor. Trad. Irene Lima Mendes, Regina Correia e Luísa Santos Gil. 2ªed. Porto Editora, 1999.

 

LANCILLOTI, Samira Saad Pulchério. “A Constituição Histórica do Trabalho Docente”. Tese de Doutorado. Unicamp-SP. 2008.

 

PAULA, Benjamin Xavier de; GUIMARÃES, Selva. “10 anos da Lei Federal 10.639/03 e a formação de professores: uma leitura de pesquisas científicas”. Revista

 Educação Pesquisa, São Paulo, v. 40, n. 2, p. 435-448, abr./jun. 2014.

 

ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho; TRINDADE, Azoilda Loretto. (Org) “Ensino Fundamental”. IN: BRASIL, Orientações e ações para Educação das Relações Étnico-raciais. Brasília: SECAD, 2006.

 

SCHWARCZ, Lilia Moritz. “O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930”. 1ª reimpressão, São Paulo: Companhia das Letras, 1993.


 

20 comentários:

  1. Primeiramente parabenizo o autor e a autora pelo estudo realizado.
    Sou estudante de História e estou no segundo período do curso. Pretendo fazer meu Trabalho de Conclusão de Curso voltado para a Lei 10639/03, especificamente no que tange à sua abordagem para além do que está determinado sobre ela nos livros didáticos. Nesse sentido, gostaria de saber a opinião do e da autor/a no que se refere à relação entre a o Ensino de História do Brasil (e até das Américas), numa perspectiva decolonial e a legislação em questão.

    Assino: RANNE CASSIA MIRANDA
    Assistente Social e discente do curso de História da Universidade Federal do Triângulo Mineiro

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    1. Olá, Ranne. Uma honra e felicidade para nós despertar teu interesse pelos temas em pauta em nosso texto. Mais ainda, por percebermos que estás engajada na temática étnico-racial. Vamos lá. Nossa pesquisa é fruto de mestrado, na qual verificamos a implantação e implementação em uma cidade gaúcha da referida Lei. Para isso, além da documentação oficial nacional e municipal, entrevistamos também os professores responsáveis pela disciplina de História nos anos iniciais II (6º ao 9ºº ano). Dentre tantas indagações possíveis, queríamos investigar qual a concepção dos professores sobre a Lei e o livro didático, uma vez que partimos da perspectiva analítica da Organização do Trabalho Didático, a qual assevera ser, na relação pedagógica na escola, a supremacia e primazia desse instrumento didático e não do professor ou do aluno, como postula o construtivismo. O que se verificou, já que para todos os professores, “a falta de livros didáticos com conteúdos prontos para apenas serem “aplicados” em aula, foi o que mais se constatou na fala dos parceiros de pesquisa. Daí a necessidade] de se discutir junto com a questão de “racismo estrutural, etc. a questão que perpassa e condiciona também as dificuldades de implementação desta lei na cultura escolar, que é, em nosso entendimento, a relação didática estar pautada em um instrumento didático que reduz, minimiza e de certo modo vulgaria e contribui para que as relações verticais (racismo) ainda ocorram na escola/família/sociedade.
      Quanto a questão de “decolonialidade” levantada por você, é uma abordagem crescente e necessária, obviamente. Nesse sentido, penso que a versão 11.645 (que abarca a africana e indígena) daria mais conta. Se sabe que, o senso-comum, trata como demarcação histórica, a Lei 10.639/03 referente à questão “afro”, enquanto a 11.645/08 como que demarcação histórica referente à causa indígena.
      No entanto, chamo a atenção para o fato de que ambas privilegiam tanto africanas quanto indígenas. Trazer para a discussão Ensino de História, Educação para as relações étnico-raciais, livro didático e decolonialidade, em nosso entendimento, “dá muito pano-para-manga” resultando em uma boa discussão para iniciar em um TCC e avançar nos estudos posteriores.
      Jander & Vitória

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  2. Boa noite a todos inicialmente, parabenizo os autores Jander Fernandes Martins e Vitória Duarte Wingert pelo trabalho intitulado As dificuldades na efetivação da lei 10.639/2003, das questões socioculturais à questão do instrumental didático, na qual é salientado que a Lei 10.639/03 tem sua gênese no Projeto de Lei (PL) nº 259-a de 1999, que foi apresentada pelos Deputados Ben-Hur Ferreira e Esther Grossi, tramitando pelos diversos setores políticos do governo até que, quatro anos mais tarde foi promulgada, modificando os Artigos 26-A e 79-B da LDB/96. Concomitantemente, outras modificações na Diretriz Maior Educacional foram levadas a cabo, a partir do Parecer do CNE/CP nº 3/2004 e da Resolução CNE/CP nº1/2004 que estabeleceram as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana.
    Assina: Francielcio Silva da Costa.
    Graduado em História pela UESPI- Universidade Estadual do Piauí.

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    1. Francielcio, um privilégio para nós estar comungando uma temática tão cara ao nosso país e, tão emergencial nos dias de hoje. Como citado e melhor explorado na dissertação, ve-se que foi uma luta de muitos anos para transformar em Lei esse projeto. De fato, desde a elaboração da Constituição de 88 já havia lutas nesse sentido. No entanto, embora vigorando desde o início dos anos 2000, há muito ainda pelo que lutarmos para sua efetivação real e concreta na escola pública brasileira.
      Gratidão Jander & Vitória

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  3. Quais as principais dificuldades da efetivação da lei 10.639/2003 nas escolas públicas brasileiras?

    Assina: Francielcio Silva da Costa.
    Graduado em História pela UESPI- Universidade Estadual do Piauí.

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    1. Pois então, sabemos de há muitos anos que o racismo é estrutural e perpassa todas as esferas socioculturais, políticas, econômicas em nosso país. A escola não é diferente. Com nosso estudo, buscamos alertar para o fato de que, além de toda a cultura europocêntrica, patriarcal, higienista, eugênica, de branqueamento, de invisibilidade das minorias étnicas e da história opressora para com a cultura africana e afro-brasileira. Destacamos para o fato de que, em termos de Lei, implantou-se uma legislação de obrigatoriedade, porém, a relação basilar e fundamental que assenta a realização do trabalho do professor de História é avassaladoramente, esmagada por inúmeros outros entraves, que dificultam e, por vezes parece promover a anulação da realização de implementação efetiva do ensino da cultura afro-brasileira e africana na escola brasileira. Para sustentar essa perspectiva identificada, refletimos e é o que aqui propomos, analisar os distintos contextos escolares e de sala de aula, à partir do Triângulo do Conhecimento e Triângulo Pedagógico proposto por Antonio Nóvoa, aliada à proposição de Organização do Trabalho Didático de Gilberto Luiz Alves. O livro didático nos suscitou a pensar mais como um instrumento que adia a efetivação, pois se detém em sua maioria a temática da escravidão e carece de abordagens de história afro positiva.
      Enfim, é o que se revelou no contexto pesquisado.
      Forte abs
      Jander & Vitória

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  4. Olá, gostaria de iniciar parabenizando pelo texto, as discussões e reflexões apresentadas são essenciais!
    Sou professor de história e durante minha graduação tive muita leitura e debates sobre o tema, mas quando cheguei à sala de aula de fato percebi a dificuldade em ensinar sobre a História e Cultura Afro-Brasileira e para aplicar a lei 10.639/03. Mesmo após quase vinte anos da lei, ainda nos deparamos com tantas dificuldades e resistência em ensinar sobre esse tema. Ainda deparamos com falta de professores especializados na área para lecionar e falta de materiais didáticos que abordem sobre o tema de maneira profunda. Nesse cenário, quais alternativas vocês apresentam para que os professores de História e também das outras disciplinas, possam utilizar no processo de ensino dos nossos alunos e romper com esse preconceito e resistência que a sociedade impõe sobre o ensino da História Afro-brasileira?
    Ass: Carlos Alexandre Souza Prado

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    1. Olá caro colega de estudos, Carlos. Que privilégio estar comungando e juntos, engajados numa tentativa real de mudança e ruptura com o modelo didático, cultural e relacional em nosso ambiente escolar. Tua caminhada em sala de aula, por si só, já demonstra o trabalho árduo que, mesmo pautado em Legislação, ainda assim, se faz dificultosa de implementar e realizar. Os fatores são “n”, desde o “tipo de turma” em que se leciona (um dos meus parceiros de pesquisa revelou ser mais difícil discutir em contextos étnicos distintos, como por exemplo em uma comunidade de origem alemã/germânica). O “tipo de comunidade escolar” em que se está inserido. A quantia de turmas em que se é responsável pelo Ensino de História, outro parceiro de pesquisa lecionava sozinho História para toda uma escola de EF completo (6º ao 9º ano). Há também a questão dos instrumentos didáticos, que trato no texto e também, busquei pincelar em respostas acima, de outros participantes.
      Buscamos não só lembrar que há muito racismo velado e explícito no ambiente escolar (mais ainda nos últimos anos dado ao cenário brasileiro político atual, que incentiva e valida comportamentos racistas, reacionários e conservadores de modo violento). Mas nossa chamada aqui é para demonstrar que, há elementos dentro da própria estrutura escolar (e universitária) que dificultam a concretização de uma cultura da paz e anti-racista. A iniciar pela forma como no LD é tratada a 10.639/03. Aliada a isso, temos ainda a reorganização dos conteúdos das seriações via BNCC. A qual diga-se, possui inúmeros itens que tratam da questão afro-brasileira e africana. A grande questão é, as obras literárias, os LD, os cursos de formações propostos e promovidos pelos órgãos Governamentais 9federal, estadual e municipal) estão reeditando e reconfigurando suas edições para atender as habilidades e conteúdos estabelecidos em lei pela nova BNCC? (acreditamos que essa discussão mereceria um estudo analítico em nível de pós-graduação, TCC...).
      De todo modo, fará 20 anos a lei em 2 anos e o que vemos é um retrocesso cultural e relacional na sociedade brasileira e que, certamente já deve estar “respingando” em sala de aula, nos corredores e nos pátios escolares. Uma vez mais, nossa atenção voltada para as relações aluno-aluno no ambiente escolar e periféricos à escola, de forma atenta para identificarmos outras mais dificuldades que se farão presentes e latentes na implementação e implantação da Lei 10.639/03.
      Forte abs e ótima jornada docente caro.
      Jander & Vitória

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  5. De um modo geral, os livros didáticos de História da educação básica estão alinhados a lei 10.639/2003?

    Assina: Francielcio Silva da Costa.
    Graduado em História pela UESPI- Universidade Estadual do Piauí.

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    1. ótima pergunta caro. Porém, devemos levar em consideraçao duas questoes, em nosso entendimento. 1) os livros promovidos pela PNLD, buscam abordar sim a temática étnico-racial. No entanto, raros sao as versões/edições que abordam outros temas, que nao a escravidão (por vezes, chego a pensar que falar em escravidão e se resumir só a ela, é suficiente - o que sabemos ser uma inverdade). 2) Há hoje um grande mercado editorial de LD, mereceria um estudo em nível de mestrado, pelo menos, analisar a maior gama possível de diferentes LD's e os conteúdos referentes à Lei 10.639/03 (se é que abarcam).
      Portanto, em um sentido genérico, os LD "estão alinhados" com a Lei. Porém, o que tentamos chamar a atenção é para o fato desse LD estar vulgarizando e se limitando à tratar apenas da escravidão (que é conteúdo de uma seriação específica nos Anos finais do EF).
      Esperamos ter colaborado para uma maior reflexão.
      Abs

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  6. Primeiramente quero agradecer aos Professores Jander Fernandes Martins e Vitória Duarte Wingert por esse conjunto de informações na qual é de grande contribuição ao mundo acadêmico em específico a Cultura Africana, mas dentro dessa perspectiva como proceder as dificuldades veladas aos estudos da cultura africana em sala de aula, mesmo sabendo que o nosso país tem uma dificuldade enorme em aprender a disciplina História isso posso destacar em grande parte que essa resistência está ligada principalmente a políticas conservadoras de cunho religioso cristão, vale lembrar que autores como Aimé Cesaire e Frantz Fanon combatiam principalmente esse pensamento eurocêntrico, existe alguma solução para colocarmos em prática dentro da lei 10.639/03 o pensamento cultural sobre a Negritude?
    Márcio José Lima Lisboa / E-mail: marciodgt@gmail.com

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    1. Olá caro Marcio, gratidão. Um gás a mais parece nos reabastecer ao percebermos que todos estamos lutando por uma ruptura radical nas relações verticais instauradas. Quanto a sua indagação, longe de termos uma resposta pronta, porém, você com os autores supracitados já dá indicações. Realmente, uma das estruturas basilares que mantém ainda de pé essa cultura eurocêntrica sem dúvidas parece ser a de ordem religiosa, uma vez que, seja na perspectiva da história das religiões ou da antropologia da religião, ou ainda da psicologia, racismo e preconceito são elementos de natureza psicoafetiva fortemente enraizada, logo, faz parte de uma esfera subjetiva. Talvez aí, religião, crença, subjetivismo, preconceito de cor, noção de raças... fazendo uma metáfora, são apenas estrelas dentro do complexo cosmos de racismo estrutural, velado na sociedade brasileira.
      Há soluções para isso? Parto da premissa que todos aqui neste evento, entendem que há sim solução, porém ela é de natureza humana, cultural, psicoafetiva, didática, pedagógica, intelectual...No entanto, dada a onda de conservadorismo que vem avançando em escala mundial, realizar ações afirmativas, para além de debater apenas escravidão é de suma importância, neste momento.
      Gratidão, e seguimos na resistência.
      Jander & Vitória

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  7. Observa-se que nos últimos anos a educação baseada nas etnicidades africanas e afro-brasileira tem ficado um tanto estagnada, atribui-se essa questão aos governos e vontade politica dos legisladores na efetivação de politicas ja existentes como é o caso da Lei 10.639/03 .Enquanto os governos não tomam providencias para a efetivação destas politicas educacionais tao importantes para a emancipação histórica dos negros, o que as escolas bem como os professores podem fazer para oportunizar um ensino baseado na educação étnico racial onde não haja conflito entre as etnias presentes na sala de aula?
    (Hélido Veras Silva)

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    1. Olá caro Hélido, você faz assertivas pontuais e que revelam a realidade de muitos contextos escolares e não-escolares. De fato, a dimensão política merece novos olhares, uma vez que, temos boas políticas de inclusão e ações afirmativas para com as diversas etnias e culturas. No entanto, por quê elas não se efetivam de fato? Como busquei dialogar com outros pares, não temos uma fórmula pronta. Porém, retomo a metáfora do "jogo do morto", de Antonio Nóvoa sobre "triângulo conhecimento e triângulo pedagógico". Pensamos que seja uma estratégia interessante para pensarmos cada contexto (escolar ou não), pois estas relações se dão no plano humano, logo, cada contexto é um contexto.
      Quanto a questão da Educação para as relações étnico raciais, devemos ter a clareza de que elas prevêm que ocorram em "todos os contextos", havendo ou não "conflitos explícitos ou não", uma vez que se trata e uma "ação afirmativa" de combate à práticas verticais. Particularmente, sempre faço correlação que todo professor deve ser um pouco de "antigos mestres-escolas" ou ainda, como G. Durand chamará de "homem de tradiçao". Ou seja, deveriamos, junto do contexto de sala de aula, buscar saber muito de muito do maior número de culturas possíveis (indígenas, negras, asiáticas...) e assim explorar positivamente todas. Há material para isso? Há, possuem uma linguagem didática escolar? não, infelizmente. É nesse quesito que hora-atividade (momento planejamento do professor) se faz necessária. E nem todos os professores brasileiros tem acesso a isso. Então, precisamos refletir sobre as relações humanas verticais e também sobre as relações estruturais escolares.

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  8. Olá, gostaria de iniciar parabenizando os autores pelo texto.
    Confesso que por muitas vezes já fui a professora que achava que os materiais eram escassos, mas hoje acredito que ainda haja uma certa ressistência por parte de muitos professores em buscar materiais e sair do eixo quadro-livro didático. Porém, a reformulação de muitos planos de ensino estaduais e municipais contribuem para a efetivação na busca de um novo olhar sobre esse tema, com resalvas, acredito que caminhamos para uma maior e melhor abordagem dos temas ligadas a lei.

    Jaqueline Marquardt

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    1. Olá querida Jaqueline. Você toca numa perspectiva muito importante e positiva. Hoje, há um acervo muito pertinente e de qualidade que promovam ações afirmativas. Desde o uso de perfis de instagram ou pages de facebook que tratam dessa temática. Há materiais riquíssimos que poderíamos utilizar em sala de aula. Obviamente que, sabemos que nem todas as escolas possuem acesso a internet. No entanto, livro didático e quadro, são preponderantes, uma vez que, sabemos ser uma grande economia para um governo, investir nesses recursos ao invés de adquirir ferramentas pedagógicas múltiplas (como simplesmente disponibilizar wifi na escola e notebooks, lousas interativas...). De todo modo, felizmente já começa a surgir ótimos materiais e em quantidade equivalente, também.
      Gratidão.
      Jander & Vitória

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  9. Olá Jander Fernandes Martins e Vitória Duarte Wingert.

    Considerando que a população afrodescendente é a maioria da população pobre no Brasil e que nossa história contém ingredientes fartos de discriminação racial, ao afirmamos que a Lei 10.639/03 traz medidas totalmente pertinentes e necessárias frente à luta contra o preconceito racial e a construção dos novos saberes propostos, gostaria de saber pelos autores se na pratica a efetivação dessas medidas acontecem, e como acontecem. Os professores de História estão trabalhando em sala de aula e em outros espaços escolares as temáticas presentes na Lei?
    Sabendo que o livro didático desempenha não só um papel de formação critico social, mas também politico, está realmente contemplado o que se é proposto em lei, ou apenas passa pincel em um faz de conta?

    Antonio Xavier Miranda Neto

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    1. Olá Antonio, felicidade para nós estarmos aqui comungando saberes e reflexões sobre esse tema pertinente. Vamos lá, tuas indagações atingem as escolas de norte-sul. O ensino da Lei está ocorrendo? bom, é contextual, certamente deve haver lugares que sim, outros onde ela não se efetivou. Há também outro fator importante que nunca deve ser subestimado, qual seja: nenhuma turma é igual a outra. Também há a questão de que, em um ano letivo "tudo flui" e na turma do ano letivo seguinte "empaca" (resistência, apatia, tema considerado tabu...). No contexto pesquisado, houve professores que conseguiram realizar, outros não. Além disso, precisamos estar em alerta para com esse instrumento didático (LD), uma vez que, por ser conteúdos diferentes nas seriações de (6 ao 9ano), obviamente que, os assuntos abordados nesses LD, podem não estarem contemplando o tema da 10.639. Daí a necessidade de buscarmos em outras plataformas materiais, como sugeri em outro diálogo, instagram e facebook possuem perfis com ótimos materiais afro-brasileiros e africanos.
      Nosso estudo buscou levantar a questão justamente sobre isso, sabemos que há uma relação vertical histórica e social no país e na educação brasileira. Porém, precisamos ter um olhar acurado sobre os instrumentos didáticos e as estruturas organizacionais escolares. A BNCC há muitos itens que sugerem a abordagem de modo crítico do tema étnico-racial. Mas não basta ofertar esses elementos e não promover momentos para que o professor pesquise, sistematize e planeje conteúdos voltados para ações afirmativas. Sem isso, não ocorre efetivação em sala de aula, sendo o contexto de sala engajado ou não, com esta temática.
      Gratidão
      Jander & Vitória

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  10. Olá Jander e Vitória, muito interessante a pesquisa de vocês. Parabéns!

    É sabido que o currículo é um território de disputa. A utilização ou não de materiais didáticos e a implementação de práticas pedagógicas 'transgressoras' também o são, uma vez que em determinadas circunstâncias, o educador rege seu fazer docente conforme as regras institucionais. Nesse sentido, como realizar uma educação para as relações étnicos raciais num contexto de racismo estrutural que vai da formação do educador na Universidade até as deliberações de coordenação na Escola?

    Ass.: Ana Carolina Pires das Dôres e-mail: anacarolpires0@gmail.com

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    1. Olá Ana Carolina, tuas ponderações são contundentes e refletem, sim, a realidade educacional (desde a formação inicial até o chão de sala de aula). Você toca em dois elementos que, no estudo maior realizado, buscou-se desnudar, 1) é a questão dos cursos de formação inicial, os quais essencialmente buscam discutir e apresentar ao acadêmico em História, uma África "técnica" ou na melhor das hipóteses, uma África com a qual devemos tratar mediante documentações "à la historiador" e não como "licenciados em História" (queremos dizer com isso, que de certo modo, o que um dos nossos parceiros denuncia sobre seu curso de formação inicial, é relevante. Há na academia um excesso de produção voltada para a própria academia, e não para o ambiente escolar. Daí a hegemonia, em termos de conteúdo do LD na sala de aula). 2) escola é ambientada por seres humanos, que são oriundos da mesma sociedade (estruturalmente racista) mas de contextos socioculturais diversos (uns mais outros menos racistas).
      Nesse sentido, creio que seja inegável nosso papel, embora não goste dessa aproximação, de "militantes-intelectuais e intelectuais-militantes", uma vez que, como autores de renome como Munanga, Guimarães, Petronilha, D'Adeski... precisamos trazer para a sala de aula, via documentaçoes impressas ou digitais, situações de desmascaramento desse racismo, uma vez que, embora biologicamente não tenha mais respaldo a noção de raça, ela ainda é necessária enquanto categoria política.
      Dito isso, necessitamos sugerir e lutar pela introdução de "disciplinas didáticas de educação para as relações étnico raciais", "precisamos elencar e destacar as inúmeras habilidades e conhecimentos que tratam de forma direta e/ou transversal da Lei 10.639, na nova BNCC (que diga-se, está presente em GEO, HIS, LIT, PORT, ENS RELIGIOSO, ARTES..).
      Só para citar algumas situações que podem e devem ser levantadas em sala de aula.

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