Luna Silva de Carvalho

ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA: UM PANORAMA DE SEUS ANSEIOS E IMPASSES

 

A importância do livro didático como ferramenta pedagógica cotidianamente no ensino básico é incontestável, visto que o material orienta professores em sala de aula, a partir de seus diferentes aspectos teórico-metodológicos, permitindo aos profissionais a construção de um programa educativo mais democrático. Seu conceito é bem definido por Itamar Freitas, quando o mesmo declara: “Livro didático é um artefato impresso em papel que veicula imagens e textos em formato linear e sequencial (...) envolvendo predominantemente alunos e professores com a função de transmitir saberes (...)” (FREITAS, 2009, p.12). Diante desse conceito, o presente trabalho, referente à disciplina de Sistema Escravista no Século XIX, tem por objetivo desenvolver uma análise do livro didático em seu papel de instrumento educacional, mais precisamente utilizando o livro didático de História como alvo de pesquisa.

 

Este conhecido veículo de ensino-aprendizagem está inserido no PNLD, Programa Nacional do Livro Didático, um projeto do Ministério da Educação voltado à distribuição de obras didáticas aos estudantes da rede pública de ensino brasileiro. O material a ser utilizado em sala de aula é selecionado e escolhido pelo professor com base nos interesses que o docente procura estabelecer como necessários, além de abarcar o que é fixado como conteúdo essencial pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No entanto, o livro didático, assim como todo material de mesma natureza, está passível de ter seus horizontes e visões alargadas, limitadas, cercadas por interesses e desinteresses, sendo relevante, assim, a sua avaliação.

 

Muitas são as perguntas norteadoras em um processo de análise de material educativo no campo da História. Quem são os autores dessa obra? Quais são suas linhas de pesquisa? Como elaboraram a estrutura do conteúdo no livro didático? A História é temática, total e cronológica? Seus conteúdos sugerem ideias progressistas sobre a História? São a partir dessas indagações que estabelecemos uma percepção do caminho pelo qual os autores do referido material buscam percorrer e o que desejam expressar de forma enfática no ensino em sala de aula. Logo, é com base na promoção de tais questionamentos que o então trabalho desenvolverá uma observação sobre o livro História 2, volume 2, da coleção intitulada História, destinado à segunda série do ensino médio e feito pela Editora Saraiva.

 

O processo de identificação e conhecimento do livro didático a ser manuseado em sala de aula é uma tarefa imbricada à prática do profissional de educação, uma vez que, lidando com um corpo estudantil diverso, além de uma grandiosa vertente de temáticas, o docente necessita realizar escolhas assertivas quanto ao material didático de sua escolha. Nessa perspectiva, o estudo para a definição do livro didático empregado por professores passa por um dos primeiros questionamentos no processo de conhecimento da obra: quem são seus autores?

 

Como dito logo acima, o livro escolhido como objeto de pesquisa é o História 2, volume 2, referente ao segundo ano do ensino médio e elaborado pela Editora Saraiva. A obra em questão conta com a colaboração conjunta de quatro autores, sendo eles: Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Faria, Jorge Ferreira e Georgina dos Santos.

 

O primeiro colaborador, Ronaldo Vainfas, é Licenciado em História pela Universidade Federal Fluminense (1978), Mestre pela mesma Universidade em História do Brasil (1983), Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, Pós-doutor pela Universidade de São Paulo (2013-2014) e pela Universidade de Lisboa (2007).

 

Em seguida, temos a contribuição de Sheila de Castro Faria, Graduada em Bacharelado e Licenciatura em História pela Universidade Federal Fluminense (1980/1983), Mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1986) e Doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (1994). Temas principais: escravidão, alforria, História da família, cultura material, história do cotidiano e cafeicultura escravista, no Brasil Colonial e Imperial.

 

O terceiro nome a integrar a construção do livro História 2 é Jorge Ferreira, possui Graduação (1982) e Mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1989) e Doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1996). Tem experiência na área de História do Brasil República, com ênfase nos estudos de História Política e História Cultural.

 

Por fim, temos Georgina dos Santos, com Graduação em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador (1992), Mestrado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (2001) e Doutorado em Sciences de l'Éducation - Université de Paris VIII (2006). Importante ressaltar a observação de que Georgina é a única integrante do quarteto a possuir formação em área diferente da licenciatura em História.

 

Tendo em vista a formação dos professores em questão e suas áreas de pesquisa, majoritariamente, voltadas ao trabalho com História do Brasil e com o campo da Educação, tem-se a perspectiva de que o livro construído por estes profissionais tendem a orientar de maneira didático-metodológica a compreensão e o desenvolvimento das temáticas brasileiras, abarcando, assim, o período do Brasil escravista no século XIX. É válido salientar, também, a importância desses pesquisadores apresentarem um material que manifeste e aguce o conhecimento e identificação dos alunos com a História de seu país, por meio de um processo de aprendizagem mais amplo e cultural.

 

Um dos objetivos deste trabalho é, de fato, analisar em detalhes a estrutura metodológica e física da obra em questão: o livro didático História 2. Após perpassar um olhar delicado sob as formações, áreas de atuação e interesses dos autores do material, migramos agora para a observação das singularidades desse veículo educativo, através de elementos contidos no mesmo, sendo eles: a carta de apresentação do livro; a seção “Conheça este livro”; o sumário do material.

 

A carta de apresentação do livro é feita pelos autores e endereçada aos alunos onde, de forma simples, os escritores discorrem sobre qual o sentido de estudar a História, além de declararem os objetivos que buscam aflorar nos estudantes por meio de sua obra, como: “compromisso permanente com a construção da cidadania”, “valorizar a democracia, respeitar as diferenças e as divergências”, “conhecer outras sociedades, outros valores”. Dessa forma, entende-se que através dessa proposta de plano de ensino, os autores estão declarando responsabilidade em dispor um material plural, respeitando os diferentes povos e sociedades integrantes da História e visando sempre a promoção de um sujeito cidadão.

 

Posterior à carta de apresentação, tem-se a seção intitulada “Conheça este livro”, uma área destinada a orientar, de forma visual, os alunos quanto à utilização do livro didático de História, tecendo comentários no tocante à estrutura de abertura das unidades e capítulos. São informadas algumas seções, a exemplo: “Imagens contam a História”, ressaltando a importância da imagem como fonte; “A História no seu lugar”, estimulando a pesquisa de campo na área de História.

 

Por fim, o sumário do livro nos sugere uma estrutura organizada, de forma a contar a História de maneira cronológica, intercalando os fatos históricos ao longo do tempo. É notório, também, a divisão estabelecida entre História do Brasil e História de continentes como África, Ásia e Europa. O material é dividido em quatro unidades, são elas: 1 Colapso do absolutismo e do colonialismo mercantilista; 2 No tempo da indústria; 3 Américas independentes; 4 A expansão do mundo burguês. O título de cada unidade é sucinto, direto e nos releva uma visão de caráter econômico e político por parte dos escritores na divisão histórica dos tempos.

 

Os textos principais desempenham o importante papel de delinear os pontos centrais de abordagem e as temáticas históricas que se desejam tratar de maneira enfática no livro didático. Pensando numa forma de melhor compreender esses dados, foram feitas tabelas correspondentes aos temas tratados em cada capítulo, seus subtemas, bem como o caráter de suas abordagens. Destaco que nem todos os capítulos serão tratados em sua integridade, pois os fragmentos textuais analisados correspondem, somente, à temática envolvendo a pessoa do negro no decorrer do século XIX.

 

Tabela 1: Capítulo 9 – “Brasil: a construção do Império”

TEXTO PRINCIPAL

PÁGINAS DESTINADAS

LOCAL

FORMA DE ABORDAGEM

PERSONALIDADES DO EVENTO HISTÓRICO

Rebeliões escravas – Carrancas.

164-165

Carrancas – Minas Gerais.

Social.

Trata da não aceitação, por parte dos escravos, aos maus tratos que recebiam dos senhores.

População escrava com destaque para o nome de Ventura Mina.

Rebeliões escravas – Os Malês.

165

Salvador – Bahia.

Social.

Ocasionada devido a insatisfação dos malês diante das repressões sofridas pelas autoridades locais no tocante as suas manifestações religiosas.

Malês - mulçumanos nascidos na África.

Rebeliões escravas – Manuel Congo.

166

Paty do Alferes – Rio de Janeiro.

Social.

Almejava a construção de um quilombo através da participação de escravos de vários senhores.

Cativos com destaque para o nome de Manuel Congo.

Figura 1: Tabela de temas referente ao Capítulo 9.

 

Tabela 2: “Boxes” do Capítulo 9 – “Brasil: a construção do Império”

“BOXES”

SUJEITOS HISTÓRICOS

Conversa de historiador – As revoltas escravas.

População escrava.

Figura 2: Tabela de “boxes” referente ao Capítulo 9.

Tabela 3: Capítulo 11 – “Império escravista, Brasil africano”

TEXTOS PRINCIPAIS

PÁGINAS DESTINADAS

TEXTOS COMPLEMENTARES

CARÁTER DE ABORDAGEM

Procedência dos africanos escravizados.

193-194

Bantos e sudaneses no Brasil.

Social, Política e Econômica.

Identidades afro-brasileiras.

195-196

A população escrava no Brasil.

Social e Cultural.

Combate ao tráfico negreiro pelo Atlântico.

197-201

Razões inglesas; Escravidão e independência; O fim do tráfico no Brasil.

Política e Social.

Figura 3: Tabela de temas referente ao Capítulo 11.

 

Tabela 4: “Boxes” do Capítulo 11 – “Império escravista, Brasil africano”

“BOXES”

SUJEITOS HISTÓRICOS

Outra dimensão: Personagem – Retornados e traficantes: o caso de Francisco Félix de Sousa.

Francisco Félix de Souza.

Investigando o documento - O Brasil africano.

Damas mercadoras.

Conversa de historiador - Os interesses do abolicionismo britânico.

Povos britânicos.

Outra dimensão: Personagem – Um mulçumano escravizado escreve suas memórias.

Mahommah Gardo Baquaqua.

Imagens contam a História - Fim do tráfico atlântico?

Povos britânicos.

Figura 4: Tabela de “boxes” referente ao Capítulo 11.

 

Tabela 5: Capítulo 13 – “O colapso da monarquia brasileira”

TEXTOS PRINCIPAIS

TEXTOS PRINCIPAIS

TEXTOS COMPLEMENTARES

CARÁTER DE ABORDAGEM

Abolicionismo e abolição.

224-226

Processo abolicionista; Rumo à abolição.

Política, social e econômica.

Figura 5: Tabela de temas referente ao Capítulo 13.

 

Tabela 6: “Boxes” do Capítulo 13 – “O colapso da monarquia brasileira”

“BOXES”

SUJEITOS HISTÓRICOS

Conversa de Historiador - Os quilombos abolicionistas.

Caifazes.

Figura 6: Tabela de “boxes” referente ao Capítulo 13.

 

Tendo em vista a sequência de informações acerca dos temas e subtemas colocados nas tabelas do tópico 4 deste trabalho, foi elaborada uma análise qualitativa com relação aos direcionamentos das abordagens utilizadas no livro didático História 2, visando emergir, de maneira simples, os aspectos subjetivos que os autores da obra trataram como principais, recorrentes, relevantes ou menos relevantes, revelando, assim, as condições que mais caracterizam a obra estudada. Os fragmentos textuais dos capítulos aqui analisados, sendo eles, respectivamente, 9, 11 e 13, somam um total de cinco textos de caráter principal. Estes textos serão classificados em grupos referentes às suas condições de temáticas políticas, econômicas, sociais e culturais.

 

Sendo assim, o material didático em questão, no que se refere ao período abarcado pela disciplina de Sistema Escravista no Século XIX, detém, aproximadamente, 60% dos seus textos ligados ao processo social histórico, sendo expressos no decorrer de três fragmentos principais. Em seguida, a abordagem de maior recorrência é a política, narrando 40% dos textos, valor correspondente a duas estruturas escritas nos capítulos em questão. Reforço a informação de que os textos principais contam com outros subtextos, os quais apresentam, secundariamente, temáticas econômicas e culturais do período estudado. Contudo, não se configuram como objetivo central e, por esta razão, a escolha de não os abarcar de forma numérica na porcentagem. Segue, para melhor compreensão, um gráfico expresso pela figura 7, com os seguintes dados:

 


Figura 7: Gráfico referente aos temas de abordagem dos textos principais.

 

Os “boxes”, analisados ao longo das tabelas 2, 4 e 6, do tópico 4, trazem, com maior intensidade, uma proposta de narrativa com abordagens culturais, se comparadas às abordagens contidas nos textos principais. Estes “boxes”, quando observados de forma comparativa em relação aos demais fragmentos escritos dos capítulos como um todo, não somente analisando temas relativos ao negro no século XIX, são destinados a falar sobre os excluídos da História, enquanto que os de maior destaque e maior extensão sempre falam sobre o outro lado, que não o dos marginalizados.

 

Ainda assim, mesmo ocupando um espaço discreto da estrutura textual do livro didático, o fato de estarem sendo referenciados é de grande valor para construção da educação em sala de aula, pois servem de ponto de partida para uma maior reflexão entre professores e alunos, como: “Por que estas personalidades e classes sociais tendem a compor em menores porcentagens os textos principais narrados nos livros didáticos de História? O que explicaria tal posição?”. São ferramentas que dão vazão ao estímulo de um pensamento reflexivo entre discente, docente e disciplina.

 

Somado ao uso dos “boxes”, é importante destacar a utilização das imagens ao longo dos capítulos, carregando pinturas e documentos diretamente ligados aos temas centrais dos textos. A postura de incentivar os alunos ao estudo e interpretação dessas imagens é cirúrgica no processo de construção desse interesse por parte dos alunos, uma vez que, como bem argumenta a professora Margarida Maria Dias de Oliveira quanto ao uso das imagens como fontes: “(...) levando em consideração que nossa cultura é muito visual e que os alunos têm seus olhares direcionados para as imagens.” (OLIVEIRA, 2009, p.82). Estes demais instrumentos oferecidos pelos livros didáticos devem ser bem aproveitados e utilizados.

 

Após realizar análise detalhada referente ao livro didático História 2, percorrendo sua estrutura de organização, o currículo profissional de seus autores e a forma com a qual abordam seus conteúdos históricos, é notório que, no tocante ao fragmento temporal do século XIX, em se tratando do sujeito negro, as reflexões possuem inclinação ao caráter social e político, como apresentado no gráfico expresso na figura 7.

 

Não obstante, os fragmentos de texto tendiam a tratar a pessoa escrava como dotada de características violentas em suas ações, bem como defensora de uma certa rivalidade entre seus pares, também escravos, buscando reforçar uma ideia de que os mesmos objetivavam, na maioria de suas revoltas e de seus desejos, a escravização de seus semelhantes. Essa postura acaba por propagar uma visão que desqualifica a organização e a força do povo negro em suas articulações ao longo da História, tendo como propósito a conquista de sua liberdade.

 

Por fim, é importante relembrar como a escolha do livro didático a ser utilizado em sala de aula deve ser coerente com o projeto político-pedagógico proposto pela escola e desejada pelo professor, bem como estar trabalhando a realidade em torno do aluno, da sociedade, pois o objetivo é sempre a formação de cidadãos que venham a formam uma sociedade democrática, que pense historicamente.

 

Referências biográficas


Luna Silva de Carvalho, estudante do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

 

Referências bibliográficas

 

BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Recomendações para uma política pública de livros didáticos. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, 2002.

 

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017.

 

OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de; OLIVEIRA, Almir Félix Batista de (org.). Livros didáticos de História: escolhas e utilizações. Natal: Edufrn, 2009. 100 p.

 

VAINFAS, Ronaldo et al. História 3. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 3 v.

10 comentários:

  1. Olá, Luna!
    Em primeiro lugar quero parabenizá-la pelo trabalho de pesquisa em relação ao livro didático. Creio que seu trabalho trouxe grandes contribuições no que tange pensar sobre a escolha desse material que será utilizado em sala de aula. Resumidamente, quero saber, como se formou a ideia de desenvolver essa proposta analítica? Como é o relacionamento com o livro didático? Quais os fatores que a motivaram a escrever este artigo? Foi fácil pra você isso? Como se deu esse processo?

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    1. Olá, Wagner!
      Agradeço pelo comentário ressaltando a contribuição do meu trabalho. Este é o papel dele mesmo, que bom que o mesmo está sendo compartilhado aqui para que possamos discutir sobre.
      A ideia para a criação desse trabalho surgiu em uma disciplina optativa da universidade - O Sistema Escravista no Século XIX - ministrada pela professora Juliana Sousa, na UFRN. Na verdade, tratou-se de uma das avaliações da disciplina. Foi preciso realizar uma revisão analítica de um dos livros didáticos disponibilizados pela professora e assim se deu este trabalho. A questão de quantificar as informações e temáticas era um dos pré-requisitos que utilizamos para compreender que contexto e que intuito o conteúdo daquele livro carregava. Mas a avaliação acabou sendo um pouco mais profunda, visto que acabei pesquisando até o currículo dos escritores para buscar um melhor entendimento nas escolhas destes ao longo dos capítulos do livro, pelo menos no decorrer do recorte temporal que pesquisei - Brasil Imperial.
      Acabei por escolher o livro didático em questão por acreditar que ele me traria um maior desafio no processo de estudo, análise, reflexão e quantificação dos conteúdos escolhidos se comparado a outra coleção de livro didático de História disponibilizado pela professora Juliana Souza.
      Por fim, afirmo que o processo de estudo de um livro didático não é simples, tampouco fácil. No entanto, meu contato com o processo de análise e até mesmo produção de materiais didáticos se deu desde o início da graduação em História pela UFRN. O curso conta com professoras e professores extremamente engajados no processo de nos familiarizar com o estudo e produção dessa espécie de material. Portanto, no início da disciplina que me rendeu este trabalho, passamos duas semanas estudando todos os elementos que envolviam o livro didático, além de quais questionamentos temos que levantar, enquanto professores e professoras, em relação aos materiais que trabalharemos em sala de aula. Fui norteada por meio de questionamentos, como: "Qual a formação dos escritores desse livro didático?", "Quais as áreas de pesquisa em que estes atuam?", "Estes profissionais estão no eixo Rio-São Paulo?", "Qual o caráter histórico predominante nos textos? Cultural, político, econômico, social?", "Como é retratada a figura do negro nos textos? Estes personagens recebem destaque nos textos principais ou somente aparecem como sujeitos inativos no processo histórico brasileiro?". A partir das indagações anteriores que eu pude construir o meu trabalho!
      Att,
      Luna Silva de Carvalho.

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  2. Olá, Luna!
    Em primeiro lugar quero parabenizá-la pelo trabalho de pesquisa em relação ao livro didático. Creio que seu trabalho trouxe grandes contribuições no que tange pensar sobre a escolha desse material que será utilizado em sala de aula. Resumidamente, quero saber, como se formou a ideia de desenvolver essa proposta analítica? Como é o relacionamento com o livro didático? Quais os fatores que a motivaram a escrever este artigo? Foi fácil pra você isso? Como se deu esse processo?
    Wagner Pereira de Souza - wpereirasouza46@gmail.com

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    1. Olá, Wagner!
      Agradeço pelo comentário ressaltando a contribuição do meu trabalho. Este é o papel dele mesmo, que bom que o mesmo está sendo compartilhado aqui para que possamos discutir sobre.
      A ideia para a criação desse trabalho surgiu em uma disciplina optativa da universidade - O Sistema Escravista no Século XIX - ministrada pela professora Juliana Sousa, na UFRN. Na verdade, tratou-se de uma das avaliações da disciplina. Foi preciso realizar uma revisão analítica de um dos livros didáticos disponibilizados pela professora e assim se deu este trabalho. A questão de quantificar as informações e temáticas era um dos pré-requisitos que utilizamos para compreender que contexto e que intuito o conteúdo daquele livro carregava. Mas a avaliação acabou sendo um pouco mais profunda, visto que acabei pesquisando até o currículo dos escritores para buscar um melhor entendimento nas escolhas destes ao longo dos capítulos do livro, pelo menos no decorrer do recorte temporal que pesquisei - Brasil Imperial.
      Acabei por escolher o livro didático em questão por acreditar que ele me traria um maior desafio no processo de estudo, análise, reflexão e quantificação dos conteúdos escolhidos se comparado a outra coleção de livro didático de História disponibilizado pela professora Juliana Souza.
      Por fim, afirmo que o processo de estudo de um livro didático não é simples, tampouco fácil. No entanto, meu contato com o processo de análise e até mesmo produção de materiais didáticos se deu desde o início da graduação em História pela UFRN. O curso conta com professoras e professores extremamente engajados no processo de nos familiarizar com o estudo e produção dessa espécie de material. Portanto, no início da disciplina que me rendeu este trabalho, passamos duas semanas estudando todos os elementos que envolviam o livro didático, além de quais questionamentos temos que levantar, enquanto professores e professoras, em relação aos materiais que trabalharemos em sala de aula. Fui norteada por meio de questionamentos, como: "Qual a formação dos escritores desse livro didático?", "Quais as áreas de pesquisa em que estes atuam?", "Estes profissionais estão no eixo Rio-São Paulo?", "Qual o caráter histórico predominante nos textos? Cultural, político, econômico, social?", "Como é retratada a figura do negro nos textos? Estes personagens recebem destaque nos textos principais ou somente aparecem como sujeitos inativos no processo histórico brasileiro?". A partir das indagações anteriores que eu pude construir o meu trabalho!
      Att,
      Luna Silva de Carvalho.

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  3. Primeiramente parabéns pela pesquisa e segundo dizer que me norteou demais em minha pesquisa. Serviu com um luz. Achei interessante demais a forma como você analisou meticulosamente até o currículo dos professores e como isso influenciou a escolha dos assuntos tratados no livro didático criado por eles. Como também trabalho com a temática livro didático e história dos negros no Brasil, muito me chamou atenção que encontro a mesma problemática em minha pesquisa: a visão estereotipada dos negros no livro didático. Minha pergunta é: na sua visão e estudos como pesquisadora, quais as soluções que você apontaria como uma uma possível solução para a quebra desse paradigma e essa visão preconceituoso, estereotipada e incompleta da história do negros no livro didático?

    Ass.: José Luiz Xavier Filho

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    1. Oi, José Luiz!
      Que satisfação para mim poder te oferecer um norte para a produção do seu trabalho. Desejo sorte no seu processo de pesquisa envolvendo essa área.
      No tocante ao estudo da temática da história dos negros no Brasil em livros didáticos posso imaginar as coisas com as quais você pode ter se deparado ao longo de suas leituras e pesquisas. O estereótipo ainda é bastante presente, infelizmente.
      Em relação a sua pergunta quanto as soluções que enxergo, não tenho uma resposta pronta e nem exata para te dar, José Luiz. Gostaria de poder te escrever algo efetivo, eficiente e rapidamente aplicado. Mas a realidade é que essa é uma luta a ser defendida por todos os professores e todas as professoras em sala de aula. O chão da escola é nosso espaço de resistência e mudança, assim como a pesquisa e a produção de materiais como o meu e o que você vem trabalhando são um dos passos importantes em todo esse processo. Nós precisamos fortalecer a atividade de elaboração de materiais didáticos nas universidades, inserir esse trabalho como elemento básico na licenciatura em História e demais cursos envolvendo formação de professores.
      Eu compreendo que esse é um processo lento, mas ainda assim relevantemente transformador. E, enquanto um novo cenário de escrita vai sendo construído no universo histórico dos materiais didáticos, seja envolvendo a temática africana, indígena, de mulheres, LGBTQIA+, nós temos o dever de, através dos conteúdos, fontes e até mesmo das ausências e lacunas dessas histórias, questionar os nossos alunos, alunas e alunes acerca do aparecimento ou não de determinadas temáticas.
      Afinal, a quem essa História quer servir e por quê?
      Att,
      Luna Silva de Carvalho.

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  4. Boa noite Luna. Trabalho com alunos do ensino fundamental e no curso de Pedagogia onde leciono Metodologia de Ensino de História. Sempre faço um exercício de análise de livro didático justamente por ir ao encontro do que pensas a respeito desse material didático. Fiquei com dúvidas quanto ao ano de edição do livro que analisastes. É um dado importante a ser levado em conta nesse caso (se foi após as leis 10.639 e 11. 645) pois a análise passa em identificar o cumprimento ou não da lei e verificar se permanecem os estereótipos. Sobre isso, pergunto: o uso de "boxers" nos livros didáticos para referenciar sujeitos excluídos não estão servindo apenas para cumprir a legislação vigente e manter o "status quo" da narrativa histórica convencional? Jackson Alexsandro Peres

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    1. Olá, Jackson. Boa noite!
      Fico feliz de saber que esse movimento de análise do livro didático para posterior compreensão do que ele objetiva já é realizado por você em sala de aula. Esta é uma prática que anseio pelo crescimento, pois os frutos serão muitos!
      Agora, respondendo a pergunta que você me fez sobre o ano de edição do livro, o mesmo foi publicado no ano de 2016, sendo a terceira edição lançada pela Editora Saraiva. Portanto, tanto a lei 10.639 quanto a 11.645 estavam em vigor e deveriam ser cumpridas, visto que são, respectivamente, dos anos de 2003 e 2008. Já no que diz respeito a sua pergunta envolvendo os "boxers", eu concordo que eles apareçam, em certos casos, apenas para caber na legislação vigente, o que acaba sim por fomentar uma narrativa convencional. Contudo, eu realmente defendo que esse movimento de marginalização de certas temáticas no espaço destinado aos "boxers" pode ser uma fonte de reflexão e análise a ser impulsionada em sala de aula e, a partir daí, instigar os nossos alunos, alunas e alunes a se questionarem o por quê da recorrência de determinados assuntos e ideias estarem em menor destaque e tratados superficialmente. Essa atitude de estudar em maiores detalhes os "boxers" nos proporcionam uma transferência importante do peso dos conteúdos que estão descritos nesses tópicos, abrindo espaço para que a discussão envolvendo as informações ou até mesmo vazios informacionais destes pontos sejam destrinchados, analisados e discutidos em sala de aula. É sempre importante questionar qual o interesse dos autores do livro e, com base nisso, refletir sobre as questões levantadas no corpo dos textos principais e nos seguintes a estes.
      Att,
      Luna Silva de Carvalho.

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  6. Olá, Luna!!
    Parabéns pela análise precisa sobre os livros didáticos, nos desperta para um olhar apurado em relação às nossas escolhas. Achei interessante no seu trabalho quando você constata que “as reflexões possuem inclinação ao caráter social e político” e mostra isso em um gráfico. Você acredita que as questões culturais relacionadas à temática que você abordou podem ser trabalhadas em sala de aula utilizando outras fontes? É possível aliar essas outras fontes ao trabalho com o livro didático e assim promover visibilidade à temática?
    Roziane Costa

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